Por Maria Inês Ladeira
Melià foi uma pessoa à frente de seu tempo. Quando alguém está à frente de seu tempo, na verdade está à frente de todos e de um só tempo.
Sua autêntica fé religiosa nunca o impediu de ter fé na vida, de se reconhecer nos outros e nas outras fés. Com alegria e bom humor teve uma vida repleta de amigos. Sua missão era a investigação e a pedagogia que nunca deixou turvar pelas normas próprias à sua condição de jesuíta. Era pessoa de princípios.
Em sua lucidez visionária previu os desdobramentos nefastos no país dos Guarani, fruto dos impactos do maior entre os grandes empreendimentos econômicos: Itaipu.
Seus escritos originais sobre a ecologia guarani nessa terra e em yvy marã’ey, ressaltavam em meio à abundância de obras sobre a história missioneira guaranítica.
Como autor que não defende postulados e nem se aventura em águas onde não navega, viajou até o fim da vida pela vasta literatura guarani e afins que se multiplicou nas duas últimas décadas, coligindo títulos e aumentando generosamente sua rede de interlocução com novos pesquisadores.
Sua energia contagiante não lhe tirava a paz e o bom humor. Num encontro em Dourados, em pleno auge da CPI Funai e Incra, posou para uma foto comigo e Levi, três dos indicados e denunciados por supostamente; ele padre Melià, por ter inventado(!) os Guarani, eu (e CTI) por tê-los trazido … e Levi por tê-los instalado e fixado em áreas de fazendeiros.
Era um registro bem humorado da “quadrilha”, diante das aberrações das acusações e ataques pessoais tão desgastantes.
É certo que sua contribuição literária não se encerra aqui; para quem souber lê-lo ainda há muito para pensar e para os novos pesquisadores ele abriu caminhos ainda a percorrer.
Sempre teria sido bom encontrá-lo novamente.
Um brinde a Melià!