Lançada durante a Conferência da Biodiversidade, Cop 16 em Cali na Colômbia, a publicação A Biodiversidade do Corredor Territorial Yavari-Tapiche reúne dados de uma região megadiversa na fronteira entre o Brasil e o Peru, na Amazônia Ocidental.
Elaborado pelo Centro de Trabalho indigenista – CTI, em parceria com a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) e Organización de Pueblos Indígenas del Oriente (Orpio), com apoio da Fundação Rainforest Noruega (RFN), o documento destaca a rica variedade de espécies presentes na região, incluindo mamíferos, aves, peixes, répteis, anfíbios e plantas, e evidencia a importância da área para a conservação da biodiversidade global.
Acesse aqui a publicação A biodiversidade do Corredor Territorial Yavarí-Tapiche
O lançamento foi feito durante a mesa “Da ação local ao global: corredores territoriais para a proteção de povos indígenas isolados e da biodiversidade”, evento organizado conjuntamente pelo CTI, Orpio, RFN e a Organización Nacional de los Pueblos Indígenas de la Amazonía Colombiana (Opiac), durante a Cop 16 da Biodiversidade.
Através da recopilação de dados de levantamentos biológicos realizados na região, principalmente dos inventario biológicos rápidos realizados pelo The Field Museum de Chicago em cooperação com organizações governamentais e não governamentais, organizações indígenas, e universidades e institutos de pesquisa do Peru e dos levantamentos ambientais realizados pelo CTI, em colaboração com os povos indígenas da Terra Indígena Vale do Javari e suas organizações, pode se ter uma ideia da riqueza e da importância da biodiversidade dessa região.






A região abriga uma excepcional variedade de espécies, muitas delas raras, ameaçadas ou endêmicas, com altas taxas de biodiversidade e com populações saudáveis de animais em risco de extinção em outras áreas.
São pelo menos 59 espécies de mamíferos de médio a grande porte, incluindo grandes felinos. Com 17 espécies, a região possui uma das maiores diversidades de primatas do mundo, com destaque para o uacari-vermelho e o sagui-de-goeldi. A área abriga diversas espécies de aves, incluindo mutuns, gaviões-reais, papagaios e aves migratórias.
Seus rios e igarapés abrigam uma rica fauna de peixes, com estimativas que superam 500 espécies, incluindo pirarucus, aruanãs e várias espécies de importância comercial. A região é lar de diversas espécies de répteis e anfíbios, incluindo jacarés, tartarugas e sapos, com a descoberta de várias espécies novas para a ciência.
Além disso o corredor possui uma das florestas mais diversas do planeta, com comunidades de árvores e arbustos entre as mais biodiversas do mundo, incluindo espécies madeireiras de alto valor comercial como o cedro e a samaúma.
Para facilitar a apresentação dos principais pontos levantados por esses estudos a região do corredor territorial foi dividida em quatro grandes áreas de acordo com suas características geográficas, culturais e biológicas, sendo duas delas no Peru, uma no Brasil e outra abrangendo áreas dos dois países. As áreas destacadas são a margem peruana do rio Javari, a área dos territórios Matsés do alto Jaquirana no Peru, a área da região binacional da Serra do Divisor e arredores e a área da Terra Indígena Vale do Javari no Brasil e arredores.
Localizado entre os estados do Amazonas e Acre, no Brasil, e os departamento de Loreto e Ucayali, no Peru, o Corredor Territorial Yavarí-Tapiche possui uma área de 16 milhões de hectares de florestas, se tratando da região com a maior população de povos indígenas isolados do mundo. A publicação chama a atenção para o fato que a sobrevivência desses povos depende da garantia da integralidade dessas florestas. Essa área além de proteger as cabeceiras de importantes rios da região possui essa rica biodiversidade que em grande parte é resultado do manejo tradicional dos seus povos indígenas ao longo de séculos. Seus modos de vida sustentáveis e conhecimentos tradicionais são essenciais para a conservação dessas florestas.
Criado através de uma iniciativa das organizações indígenas que atuam na proteção dos povos indígenas isolados e de recente contato dessa região, o Corredor Territorial Yavarí-Tapiche, não visa a criação de nenhuma categoria de proteção territorial nova. Se trata de uma iniciativa para fomentar uma cooperação intersetorial e binacional entre os governos do Brasil e Peru, bem como da sociedade civil, para, dentro de seus marcos legais, implementarem políticas e medidas de proteção efetiva dos direitos desses povos que ocupam uma série de Terras Indígenas e Unidades de Conservação já estabelecidas nessa região de fronteira.
Além do Corredor Territorial Yavarí-Tapiche, existe o corredor Pano-Arawak, localizado mais ao sul, envolvendo o estado do Acre, no Brasil e o departamento de Madre de Dios, no Peru e que também reúne organizações indígenas e da sociedade civil demandando ações para a proteção dos territórios dos seus povos indígenas isolados nessa outra área de florestas também localizada na fronteira do Brasil-Peru. Juntas, as áreas dos dois corredores somam 25 milhões de hectares de territórios contínuos de povos indígenas isolados, com florestas tropicais intactas que abrangem 5% de toda a floresta amazônica, e armazenam 26 bilhões de toneladas de CO2, o equivalente a nove vezes as emissões anuais da União Europeia, sendo áreas fundamentais para a mitigação das mudanças climáticas, pois os dois corredores envolvem a região com um dos maiores estoques de carbono da Amazônia.
Entre as principais ameaças que afetam as áreas do Corredor Territorial Yavarí-Tapiche, estão a extração madeireira ilegal, o garimpo, a pesca e a caça predatória, a ameaça de exploração de petróleo e gás, a abertura de novas estradas bem como as atividades ligadas ao cultivo de coca e ao narcotráfico.
O fortalecimento da governança territorial é crucial para garantir a proteção legal desses territórios indígenas e das suas áreas protegidas, além de fortalecer a gestão participativa com o envolvimento dos indígenas e comunidades locais. Atividades de combate às atividades ilegais bem como a cooperação binacional são outras medidas necessárias para garantir a efetividade das medidas de proteção de toda essa biodiversidade e dos direitos dos seus povos tradicionais.
As medidas de conservação inclusivas, reconhecendo e valorizando o papel dos povos indígenas do corredor territorial na conservação da biodiversidade são fundamentais na implementação das políticas de conservação que devem respeitar os direitos e a autonomia desses povos, garantindo sua participação na gestão dos seus recursos naturais.