Nos últimos dias, garimpeiros alcoolizados invadiram uma aldeia na Terra Indígena Vale do Javari, oeste do estado do Amazonas. Os relatos de lideranças dos povos Kanamari e Tyohom-dyapa são de invasão não autorizada, alcoolização forçada dos indígenas e crimes sexuais contra as mulheres da aldeia.
Em áudios por aplicativos de conversa, membros da aldeia Jarinal pediram socorro aos demais parentes do povo Kanamari e pediram urgência na ação da Fundação Nacional do Índio (Funai) e demais órgãos responsáveis. As denúncias foram encaminhadas pelo Conselho Indígena dos Kanamari do Juruá e Jutaí (Cikaju) e pela Associação dos Kanamari do Vale do Javari (Akavaja).
A invasão ocorreu na aldeia Jarinal, no alto curso do rio Jutaí. Na aldeia vivem indígenas Kanamari e Tyohom-dyapa, este último povo de recente contato que nas últimas décadas sofreu um forte decrescimento populacional por um histórico de doenças e conflitos. A região do alto Jutaí acima da aldeia Jarinal é habitada exclusivamente por indígenas isolados.
“Eles chegaram sem autorização de ninguém, foram invadindo, fizeram festa na aldeia e embriagaram os parentes”, relata uma liderança Kanamari que recebeu os pedidos de ajuda da comunidade e que prefere não ter seu nome divulgado com medo de represálias.
“Garimpeiros estão fazendo festa até o amanhecer e dando álcool para os parentes. Temos os parentes Tyohom-dyapa de recente contato, isso é preocupante”, conta uma liderança da aldeia Jarinal, que também não revelaremos o nome por questões de segurança.
“Eles misturaram gasolina com água e deram para os parentes. Fizeram eles beberem gasolina”, completa um segundo membro da aldeia Jarinal.
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Invasores alcoolizados na aldeia Jarinal
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Invasores alcoolizados na aldeia Jarinal
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Invasores alcoolizados na aldeia Jarinal
Para as lideranças indígenas, a presença violenta dos garimpeiros pode agravar a situação de saúde na aldeia Jarinal, que no passado recente contabilizou uma elevada mortalidade infantil, tanto dos Kanamari quanto dos Tyohom-dyapa de recente contato. Atualmente, os Tyohom-dyapa são um grupo reduzido por essa alta taxa de mortalidade.
De 2012 até 2019, 17 crianças Kanamari e Tyohom-dyapa morreram na aldeia Jarinal, a maior parte delas por enfermidades infecto-respiratórias. No mesmo período, outros seis adultos morreram.
A invasão de garimpeiros acontece três anos após uma operação que destruiu 60 balsas de garimpo na região.
Em 2019, após uma invasão de garimpeiros também na aldeia Jarinal, a Akavaja levou denúncia ao Ministério Público Federal no Amazonas.
A denúncia desencadeou uma operação conjunta da Funai, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Polícia Federal.
A operação, que destruiu as 60 balsas de garimpo, foi chamada de Operação Korubo em referência a um dos povos indígenas isolados que vivem próximo. A atual invasão acontece na mesma região, onde os garimpeiros voltaram a se instalar.
Para atuar na fiscalização das invasões, a Funai mantém bases de proteção etnoambiental. Em 2021, o órgão realizou processo seletivo destinado a contratação temporária de agentes para as bases, porém os selecionados não estão atuando na área da aldeia Jarinal, o que tem facilitado as invasões.