Invasão garimpeira coloca em risco indígenas na Terra Indígena Vale do Javari

abr 20, 2022

Nos últimos dias, garimpeiros alcoolizados invadiram uma aldeia na Terra Indígena Vale do Javari, oeste do estado do Amazonas. Os relatos de lideranças dos povos Kanamari e Tyohom-dyapa são de invasão não autorizada, alcoolização forçada dos indígenas e crimes sexuais contra as mulheres da aldeia.

Em áudios por aplicativos de conversa, membros da aldeia Jarinal pediram socorro aos demais parentes do povo Kanamari e pediram urgência na ação da Fundação Nacional do Índio (Funai) e demais órgãos responsáveis. As denúncias foram encaminhadas pelo Conselho Indígena dos Kanamari do Juruá e Jutaí (Cikaju) e pela Associação dos Kanamari do Vale do Javari (Akavaja).

A invasão ocorreu na aldeia Jarinal, no alto curso do rio Jutaí. Na aldeia vivem indígenas Kanamari e Tyohom-dyapa, este último povo de recente contato que nas últimas décadas sofreu um forte decrescimento populacional por um histórico de doenças e conflitos. A região do alto Jutaí acima da aldeia Jarinal é habitada exclusivamente por indígenas isolados.

“Eles chegaram sem autorização de ninguém, foram invadindo, fizeram festa na aldeia e embriagaram os parentes”, relata uma liderança Kanamari que recebeu os pedidos de ajuda da comunidade e que prefere não ter seu nome divulgado com medo de represálias.

“Garimpeiros estão fazendo festa até o amanhecer e dando álcool para os parentes. Temos os parentes Tyohom-dyapa de recente contato, isso é preocupante”, conta uma liderança da aldeia Jarinal, que também não revelaremos o nome por questões de segurança.

“Eles misturaram gasolina com água e deram para os parentes. Fizeram eles beberem gasolina”, completa um segundo membro da aldeia Jarinal.

Para as lideranças indígenas, a presença violenta dos garimpeiros pode agravar a situação de saúde na aldeia Jarinal, que no passado recente contabilizou uma elevada mortalidade infantil, tanto dos Kanamari quanto dos Tyohom-dyapa de recente contato. Atualmente, os Tyohom-dyapa são um grupo reduzido por essa alta taxa de mortalidade.

De 2012 até 2019, 17 crianças Kanamari e Tyohom-dyapa morreram na aldeia Jarinal, a maior parte delas por enfermidades infecto-respiratórias. No mesmo período, outros seis adultos morreram.

A invasão de garimpeiros acontece três anos após uma operação que destruiu 60 balsas de garimpo na região.

Em 2019, após uma invasão de garimpeiros também na aldeia Jarinal, a Akavaja levou denúncia ao Ministério Público Federal no Amazonas.

A denúncia desencadeou uma operação conjunta da Funai, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Polícia Federal.

A operação, que destruiu as 60 balsas de garimpo, foi chamada de Operação Korubo em referência a um dos povos indígenas isolados que vivem próximo. A atual invasão acontece na mesma região, onde os garimpeiros voltaram a se instalar.

Para atuar na fiscalização das invasões, a Funai mantém bases de proteção etnoambiental. Em 2021, o órgão realizou processo seletivo destinado a contratação temporária de agentes para as bases, porém os selecionados não estão atuando na área da aldeia Jarinal, o que tem facilitado as invasões.