AKAVAJA denuncia garimpo ilegal na TI Vale do Javari

jun 13, 2019

No oeste do estado do Amazonas, uma aldeia do povo Kanamari está sendo ameaçada pela atuação do garimpo ilegal. A aldeia Jarinal está localizada no alto curso do rio Jutaí, na Terra Indígena (TI) Vale do Javari. Além dos Kanamari, vive na mesma aldeia o povo de recente contato Tyohom-dyapa, que nas últimas décadas sofreu um forte decrescimento populacional por um histórico de doenças e conflitos. A região do alto Jutaí acima da aldeia Jarinal é habitada exclusivamente por indígenas isolados.

A denúncia da ameaça do garimpo ilegal foi feita pela Associação dos Kanamari do Vale do Javari (AKAVAJA). Segundo a denúncia, pelo menos 10 balsas estão instaladas no interior da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Cujubim, próximo à aldeia e aos limites da TI Vale do Javari. Os Kanamari relatam tentativas de aliciamento por parte dos garimpeiros, que estariam prometendo melhorias na aldeia em troca da permissão para o garimpo ilegal no interior da TI.

As denúncias foram feitas através de um documento encaminhado para a Fundação Nacional do Índio (Funai). No documento, que nos foi entregue pela AKAVAJA, a associação registra a invasão na aldeia por cerca de 30 homens ligados ao garimpo, alguns deles embriagados, que teriam invadido casas e abusado sexualmente das mulheres kanamari, tocando seus corpos sem consentimento.

A presença violenta dos garimpeiros pode ainda agravar a situação de saúde na aldeia Jarinal, que nos últimos anos contabilizou uma elevada mortalidade infantil, tanto dos Kanamari quanto dos Tyohom-dyapa de recente contato. Atualmente, os Tyohom-dyapa somam 40 pessoas. Desde 2012, 17 crianças Kanamari e Tyohom-dyapa morreram na aldeia Jarinal, a maior parte delas por enfermidades infecto-respiratórias. No mesmo período, outros seis adultos morreram. A aldeia Jarinal reivindica receber atenção sistemática da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) e com frequência se alastram enfermidades infecto-respiratórias ou surtos de diarreia e vômito entre as crianças.

A denúncia da Akavaja acende novamente o alerta para o processo de expansão do garimpo nas bacias do Jutaí e Jandiatuba e os impactos dessa atividade sobre os povos indígenas da região e seus territórios. Em 2017, após denúncias de que garimpeiros teriam massacrado um grupo de indígenas isolados no rio Jandiatuba, foi constatada a operação de balsas de garimpo no setor da TI Vale do Javari onde o Estado brasileiro registra o maior número de referências confirmadas de indígenas em isolamento nesta terra indígena. Ainda que o suposto massacre não tenha sido confirmado, após expedição realizada pela FUNAI e investigações conduzidas pelo MPF e Polícia Federal, a persistência dos garimpeiros em avançar sobre a TI Vale do Javari é extremamente preocupante.

O Vale do Javari abriga o conjunto mais expressivo de povos/grupos indígenas isolados de que se tem conhecimento em uma mesma terra indígena e seu entorno no Brasil. Segundo dados da Funai de 2017, são 16 registros de indígenas isolados, dois deles fora da área demarcada, o que corresponde a 14% dos 114 registros de índios isolados no país computados pelo Estado brasileiro. Destes registros, 10 são referências confirmadas (36% do total de referências confirmadas no país), 3 são referências em estudo (12% do total  de registros nessa categoria) e 3 são registros categorizados como informações (5%  do total de registros nessa categoria).