Comunidades Guarani fecham ponte no Oeste do Paraná por demarcação de Terra Indígena

abr 3, 2017

Na madrugada desta segunda-feira (03), cerca de 450 indígenas das comunidades Guarani de Guaíra e Terra Roxa ocuparam a ponte Ayrton Senna que liga o Oeste do Paraná ao município de Mundo Novo (MS). As comunidades exigem a demarcação do território Guarani na região, além de melhores condições de vida nas aldeias.

A ponte foi liberada por volta do meio dia após negociações com a presença dos prefeitos Heraldo Trento (DEM-PR) e Altair de Padua (PSC) de Guaíra e Terra Roxa respectivamente. As autoridades assinaram um documento se comprometendo a negociar as reivindicações com as lideranças indígenas.

faixa1

Faixa pedindo demarcação da Terra Indígena Guarani no Oeste do PR (Foto: Comissão Guarani Yvyrupa)

As lideranças Guarani entregaram um documento, escrito à mão e assinado pelos caciques e representantes das aldeias da região, destinado ao governo do estado do Paraná, aos prefeitos de Guaíra e Terra Roxa, aos representantes do Ministério Público Federal e à Fundação Nacional do Índio (Funai).

O documento manifestava a intenção das comunidades Guarani em ocupar a ponte Ayrton Senna até que as autoridades se comprometessem a assumir suas responsabilidades frente às reivindicações.

“Estamos reivindicando direitos básicos que nos negam aqui nos municípios de Guaíra e Terra Roxa”, diz Iumar Martins Rodrigues, liderança da aldeia Karumbey.

Foto: Comissão Guarani Yvyrupa

Carta redigida por lideranças com as reivindicações das comunidades (Foto: Comissão Guarani Yvyrupa)

Além da demarcação das Terras Indígenas na região, as lideranças exigem condições básicas para o funcionamento das escolas que atendem os indígenas; a retomada do atendimento médico nas aldeias; a entrega regular de cestas básicas; o abastecimento de água; a instalação de energia elétrica em todas as aldeias; obras de saneamento básico que incluam a canalização de esgoto e de água; a reforma das vias de acesso às aldeias e, por fim, a contratação de agentes de saúde e de professores.

“O governo deve trazer melhorias para toda a população. Não somente para os ricos e deixar os pobres morrerem”, completa Anatálio Ortiz, cacique da aldeia Jevy.

Demarcação
Vivendo no limite de fazendas com extensas plantações de soja, a situação de violência contra indígenas no Oeste do Paraná se estende por anos e resulta na extrema vulnerabilidade em que se encontram as comunidades Guarani.

“Não nos dão oportunidades aqui na região. Há muito preconceito e muita violência contra os indígenas”, revela Iumar Martins.

A colonização do Oeste do Paraná incentivada pelo Estado brasileiro resultou no esbulho territorial do povo Guarani, o que permitiu a chegada de extensas plantações de soja na região configurando atualmente uma região produtora de grãos para o agronegócio.

Após anos resistindo em pequenos espaços ou confinados em pequenas reservas, as comunidades iniciaram um processo de retomada de suas terras no qual formaram as atuais 14 aldeias nos municípios de Guaíra e Terra Roxa.

Desde então reivindicam a demarcação de uma Terra Indígena que garanta as condições para sua reprodução física e cultural de acordo com os direitos dos povos indígenas previstos na Constituição Federal de 1988.

“Queremos saber da Funai qual é a proposta de demarcação”, afirma o cacique Anatálio Ortiz.

Cortes na Funai
Diante dos recentes cortes de cargos comissionados da Funai através de decreto presidencial de Michel Temer e as incertezas trazidas com a nomeação do deputado ruralista Osmar Serraglio (PMDB-PR) para o Ministério da Justiça, as comunidades Guarani do Oeste do Paraná também se preocupam com o atendimento do órgão indigenista na região.

“Nesse início de 2017 a situação só está piorando. Existe a ameaça de fechar a CTL da Funai que atende as comunidades Guarani do oeste do Paraná”, comenta Iumar Martins.

Veja mais fotos: